Histórico

O Programa de Ações Afirmativas – PAA, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-2008) – ampliou o acesso de estudantes negros/as, indígenas e de escolas públicas, e transformou a diversidade socioeconômica e étnico-racial na Universidade. Uma vez que esse novo perfil discente nunca teve representação significativa no acesso às universidades públicas, este momento é considerado um marco histórico das políticas de ações afirmativas no país. Vale lembrar que, em questões de diferenças étnicas na comunidade universitária antes do PAA, destaca-se a presença de estudantes de diversos países africanos, em pequeno número e oriundos do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação – PEC-G.
Essas transformações têm enriquecido a sociedade – inicialmente o ambiente universitário, tornando-o mais democrático e plural. Lamentavelmente, as diferenças também geram estranhamentos, discriminações e preconceitos.

Diante da ocorrência de constantes situações de discriminação e preconceito nos mais variados espaços dos campi (salas de aula, ruas, RU, departamentos, exposições de disciplinas), em 2012 um pequeno número de estudantes cotistas (de diferentes cursos) membros do Coletivo Kurima, juntamente com colaboradores e apoiadores, articularam-se e realizaram, em 26 e 27 de novembro daquele ano, o 1º Seminário: Ações Afirmativas: O que são cotas? Desmistificando as Ações Afirmativas e os Desafios da Permanência na UFSC, que objetivou dar voz e visão à comunidade acadêmica, possibilitando a mobilização principalmente de estudantes cotistas que sofriam formas de violência diversas – o que foi confirmado em alguns relatos de estudantes presentes –, em consequência de mitos compartilhados no ambiente acadêmico em torno das cotas.

Além disso, em diálogo com a Reitoria e a Administração Central, ressaltou-se a ausência de novas políticas na Universidade que possibilitassem a permanência material e psicológica desses novos perfis de estudantes na comunidade universitária. No ano seguinte, em 20 de dezembro, respostas mais efetivas foram obtidas: diversos encaminhamentos, como o desta campanha institucional, começaram a materializar-se a partir de uma segunda entrega de reivindicações do seminário, no manifesto contra o racismo de 2013.

No dia 11 de dezembro 2013, o Grupo 4P organizou um manifesto público contra o racismo na Universidade, em frente à Reitoria, devido à publicação da foto de um casal negro em uma rede social, conhecida como uma das típicas e frequentes “postagens de zoeiras”: a imagem incitava ao racismo e à desqualificação da população negra – a página da rede social auto intitulava-se UFSC. A ação partiu de um estudante da Universidade, é considerada criminosa, mesmo que piadas, zoeiras e outros tipos de violência sejam por vezes considerados naturais. O ato contra o racismo mostrou sua força, e a não aceitação dos estudantes negros/as de novas ações como aquela dentro do espaço universitário se fortaleceu – o caso encontra-se no Ministério Público e em processo na Universidade.

O manifesto contou com o apoio e a participação de estudantes negros e não negros, servidores professores e técnico-administrativos em Educação da UFSC, Coletivo Kurima, Coletivo Gozze, Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela/UFSC), Conselho Estadual de Populações Afrodescendentes de Santa Catarina (CEPA), Movimento Negro Unificado (MNU), Núcleo de Estudos Negros (NEN), Unegro, Coletivo Nega (UDESC), IFSC, Juventude Negra de Santa Catarina, representantes de religiões de matriz africana, sociedade civil, entre outros.

Uma das exigências conquistadas pelos manifestantes foi a institucionalização de uma campanha para a orientação de estudantes quanto ao enfrentamento do racismo e demais formas de violência no ambiente acadêmico.

Para isso os estudantes negros/as formaram uma comissão estudantil, para a organização da Campanha de Enfrentamento ao Racismo na UFSC, pensaram na importância de convidar o Núcleo de Identidades de Gêneros e Subjetividades (NIGS) e seus parceiros (Coletivo Kurima e o Coletivo Gozze), para este processo. O núcleo elaborou a cartilha “Chega de Violência! Combate a Práticas Sexistas, Homo-Lesbo-Trans- Fóbica, Racistas Xenofóbicas e Capacitistas nos Trotes Universitários”. Elaborar o novo material preservando informações das edições anteriores foi a estratégia encontrada pela comissão para valorizar o trabalho realizado inicialmente pelo
núcleo.